quarta-feira, 2 de abril de 2008

MarcoKosmo

Há, há, são tantas as mutações...



Marcokosmo desempregado procura louco um trabalho. Com quase trinta anos era um sonhador, tinha idéias de ser músico, desenhista, ator, enfim, artista. Estava sempre duro e morava na casa dos pais que sempre o incentivavam a arrumar um emprego.
Marcokosmo queria trabalho , e no trabalho incessante da mente, procurava a saída, procurou nos anúncios de jornais até a exaustão. Operador de micro, marcou no jornal, ligou, agendou a entrevista.
Chegou o tal dia, terno serio vestiu do pai, beijou a sua mãe que lhe disse boa sorte, refletindo foi ao ponto relaxado da angustia das semanas anteriores.
Chegando no endereço, um prédio novo imponente com trinta andares, tinha a cor cinza como seu terno. Caminhou até o sexto andar, local da entrevista, e se apresentou com uma mistura de simpatia e formalidade que lhe rendeu pontos na entrevista, a qual foi muito bem sucedida lhe conferindo o emprego.
Seu patrão, Patrício Ferreiro era um burocrata, só pensava nas regras da empresa. Era um puxa-saco dos seus superiores e um explorador de seus funcionários.
No primeiro mês Marcokosmo estava empolgado, conheceu vários funcionários dentro da empresa; no segundo mês já fazia o trabalho de modo mecânico mas seu chefe não saia de cima; no terceiro mês acirrou seus atritos, a rotina estava cada vez mais maçante.


A situação chegou a um ponto insuportável. Seu patrão tomou uma decisão, daria um ultimato a Marcokosmo, colocando-o contra parede. Lá fora o tempo estava fechando, trovejava e relampejava, Iansã esbravejava no céu. Marcokosmo estava se distraindo vendo mulheres nuas na internet, tomava cuidado para não ser pego. Patrício o surpreendeu e disse esta pego, e começou a dar um esporro em tom alto , exaltado e militar pra constranger Marcokosmo. Este surpreendido preparou agilmente seu espírito pois sabia que a bomba estava estourando no seu colo. Começou a se defender, disse que estava trabalhando exaustivamente no micro e que por lei, tinha dez minutos de descanso a cada hora. A chuva diminuiu seu ritmo e um feixe de sol invadiu a vidraça do escritório ofuscando Patrício Ferreiro.
O chefe gritou à Marcokosmo que aquilo era uma insubordinação e que ele deveria se colocar na sua posição de empregado. Um trovão violento e sufocante ecoou no céu, de repente um crepúsculo fora de hora escureceu a tarde; desabou uma chuva diluviosa. Iansã estava enfurecida e os outros orixás começavam a se debruçar do palco cósmico, pois aquele embate havia tomado contornos épicos.
Oxalá, o orixá supremo rapidamente fez um juízo da querela e decidiu, simpatizando com Marcokosmo, que ele estava com a razão e o inspirou. Marcokosmo mesmo perplexo sentiu uma confiança que não sabia de onde vinha, e disse a Ferreiro que não era obrigado a se submeter a um tirano. Patrício ficou vermelho sangue de raiva e xingou o pobre Marcokosmo perdendo a razão, enquanto Marcokosmo se acomodava confortavelmente na poltrona, deixando os insultos entrarem por um ouvido e saírem por outro.
Patrício Ferreiro gritava tanto que logo a sala ficou cheia de curiosos vendo Marcokosmo ser ofendido. Criou-se uma arena envolta dos dois, e não preciso dizer que todos estavam do lado de Marcokosmo, nosso herói, que contra intempéries de seu chefe venceu a batalha como representante da vontade de sua classe insubordinada por Patrício Ferreiro.
Marcokosmo venceu a batalha, mas não venceu a guerra. Foi despedido um mês depois, não foi fácil para ele, ficou deprimido, para sair daquele estado tentou de tudo e partiu paras drogas em noitadas que lhe cobriam a mente e os sentidos.
Luciana era um avião. Ela vendia drogas e Marcokosmo sempre foi curioso. Ela persuadiu Markosmo de que maconha cocaína e outras cositas mas estavam obsoletas. No seu catálogos de substancias havia drogas leves e outras nem tanto: mescal, salvia divinorum e o que ia foder de verde amarelo ele: acido lisérgico com uma mão cheia de anfetamina.
Experimentou, titubeou, decidiu-se e caiu de boca.
Boas viagens ele teve num primeiro momento. Mas surpresas podem acontecer...e de fato foi o q sucedeu, acabou se embanando todo num esquema nefasto ,ou seja uma bad trip.
Cambaleou suas ideias, entortou sua mente, fechou seus caminhos, só ñ caiu por terra pois tinha lido muita mitologia e algumas cositas demas. A sua salvação foi o movimento antimanicomial.
Mas ele passou por muitas etapas antes disso. A bad trip deflagrou um surto psicótico que deixou sua mente cega. Marcokosmo não via mais pessoas há sua volta, via anjos e anjos caídos que tinham a missão de um rearranjo espiritual no planeta, enquanto isso, no mundo real pessoas pagavam suas contas, seguiam suas vidas sem muita fantasia.
A situação ficou grave, Marcokosmo não conseguia mais se comunicar. Falava só de sua missão, e pra completar, com ’’anjos’’. Seus pais não agüentaram, e numa sexta-feira 13 levaram Marcokosmo ao pronto-socorro psiquiátrico.
Foi a pior experiência da sua vida. Foi amarrado numa cama após injetarem uma droga que o paralisou da mente até os músculos não deixando sequer o movimento livre de sua boca para reclamar. Passou uma semana assim, nos últimos dias o surto já tinha passado e seus pais foram busca-lo.
Até nunca mais cavaleiros do apocalipse...
Regenerou-se o cordão umbilical, apesar de que as reverberações dos acontecimentos iam dar o que falar...O barulho havia passado...outras orquestras tilintavam na sua cabeça. A pergunta é esta: quem seria o regente?:...começou a se interessar pela espiritualidade que era uma lacuna na sua personalidade.flertou com krishna,fez uma viagem no tempo e ouviu o sermão da montanha e parecia que estivera com Maomé quando Alá revelou tão bela doutrina. Markocosmo evoluiu rapidamente. Estava na hora de por um pouco de mandinga na sua biografia.
Então foi atrás das coisas que mais gostava, ia em shows de rock, jazz e blues; fez um port-folio com seus desenhos, que mandaria para editoras e empresas de publicidade. Um tempo depois entrou num grupo de teatro, fazia performances pela cidade, mais tarde entrou numa banda de rock. Era a época de ouro na sua vida, fazia o que queria e o que queria era o que mais precisava e aos poucos, junto com seus amigos ele foi saindo do fundo daquele poço.
Sem duvida ele tinha vencido uma das primeiras grandes batalhas em sua vida, e como dizem que deus não coloca obstáculos impossíveis de contornar, Markocosmo teria algumas surpresas, a pergunta é: será que Deus não exagerou na pitada de sal?...

Um comentário:

Carol disse...

Penso em duas respostas, a primeira é que Não, Deus não exagerou, ele não oferece uma dor maior do que o indivíduo possa suportar; a segunda é que o próprio indivíduo oferece-se dor ou alegria, na proporção que ele quer experimentar.

Parece ambíguo, mas assim é o homem. Conflitos entre a moral cristã e o livre-arbítio.